CIENTIFICIDADES ALHEIAS A UMA OLIVEIRA
Pois que me disse a minha oliveira uma destas manhãs (parece que ela gosta mais das manhãs para estas coisas) que não percebia isso de estudos literários nem tinha grande certeza do que queriam exactamente aqueles senhores todorovs nem bakhtins nem tampouco marias vitalinas. E disse ainda que o que lhe parecia a ela, oliveira da eurídice, era que andava muita gente, demasiada gente, inconformada, triste e envergonhada, até, talvez, com o facto de andarem muitos anos em escolas e colégios e universidades a estudar uma coisa que, para todos eles, tinha tão pouca importância, que decidiram tentar torná-la científica.
Ora isto não deixou de me fazer certa espécie, comichão na coluna, impressão no calcanhar.
Na verdade, parece-me que todorovs e bakhtins nunca ensinaram ninguém a escrever. Perceber o que estava escrito, as palavras, os sentidos, os batuques dos ritmos no estômago, sentir náusea, afecto e puro aborrecimento são coisas de quem lê, com ou sem estruturalismo tristemente amarfanhado num canto do cérebro que guarda tais pérolas. "Ler e escrever é para quem quer e para quem sabe por cima do querer.", disse-me ela.
Arrumei o regador. Não sou cientista das letras. Não há ciência nas letras. A literatura é uma coisa que acontece, como a fotosíntese, mas ninguém gosta da fotosíntese nem ninguém a recomenda a um amigo nem paga €25 por ela. E ninguém é cientista por conseguir ler um livro.
Não é triste nem é de gente burra ir para letras. Se é mais fácil, não faço ideia. Para mim, foi! Era melhor se assumissemos todos que enquadrar a obra no contexto político social não é bem a mesma coisa que dividir um átomo (para começar, a Humanidade não acaba quando contextualizamos uma obra), digamos que parece menos exigente. A mim. parece-me. Mas de certeza que quem quer dividir um átomo não leu o suficiente quando era criança para saber que isso também não é muito importante.
Um livro para todos!
Para todos um livro!
(a oliveira da eurídice gostou d' As Aventuras do João Sem Medo. Ela acha que, acima de tudo, é um livro com perspectiva. Óptimo para quem não a tem.)
Sunday, May 17, 2009
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