MANJERICO
Percebi há uns dias que a oliveira dos meus olhos não compreendeu o manjerico-gate, em Junho passado.
O que se passou foi o seguinte: Comprei um manjerico, dos pequeninos. Gosto de comprar manjericos essencialmente porque gosto de regatear com as senhoras que vendem manjericos. Quando a senhora se recusou a regatear o preço do dito, na praça da figueira, antevi uma vida trágica para o pequenino, negado que lhe fora um direito de nascença. Como se tivesse nascido sem raminhos. E se não me falha a imaginação, jugo até ter ouvido as sagradas e agoirentas gaivotas voando em círculo por cima das nossas cabeças.
Trouxe o desgraçado para casa, convicta da alegria que uma nova companhia iria trazer à minha jovem oliveira. Ultimamente andava a oliveira acabrunhada, macambúzia, talvez pelo rebuliço instalado na casa, em pleno processo de pinturas, e nem o anjinho, de volta das tintas no quintal, parecia fazê-la arrebitar.
Pois que ao cabo de uns dias de convivência entre ambas a espécie floral e arbórea, chego a casa para encontrar o destino consumado: o manjerico caído no chão, o vaso partido, terra e folhas espraiadas pelo frio da tijoleira.
"Que se passou?" pergunto à oliveira.
"Não aguentou a pressão" respondeu-me. "Já manjerico não sou!" foi o que ele disse, antes de se mandar do parapeito da janela."
Foi este o relato do sucedido segundo a minha oliveira. "Os manjericos são muito frágeis, pá! Não se lhes pode dizer nada."
Não pude discordar. Os manjericos são, efectivamente, frágeis. Até hoje não sei o que ela terá dito ao pobre do manjerico; sei, porém, que não voltei a comprar-lhe um manjerico e que não tem sido fácil arranjar-lhe uma companhia. Hoje, 4 meses decorridos de tão negro dia, preparo-me para regar aquele pé de feijão, quando oiço
"Então e o manjerico?"
"Que tem o manjerico?" olho para trás, desviando a atenção dos minúsculos animais que se desenvolveram na água estagnada do meu tanque (outra história, para depois).
"Onde anda esse manel? Nunca mais o vi. Mandou-se do parapeito sem ai nem ui, eu aqui tão quietinha que não lhe fiz mal nenhum e nunca mais disse nada"
"O manjerico morreu." respondi, com o sobrolho meio franzido de incrédula que estava com a pergunta.
"Sim, já me tinhas dito, mas onde anda ele? Porque é que nunca mais voltou?" Também te zangaste com o manjerico? És de gancho, também" Foi aqui que comecei a ficar preocupada.
A minha oliveira não percebeu o que se passou.
E não vou ser eu a explicar-lhe, que dada à melancolia já ela é. Sobretudo agora, que anda de amizades com as couves da vizinha de cima.
Friday, October 09, 2009
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