PELA MANHÃ
veio a Aurora.
Orfã de pai e mãe, acolhia-a no meu quintal. Dizem-me que é de boas famílias, mas que era muito "rebiteza" e que se recusava a fazer o que lhe diziam na estufa. Acabava por desinquietar as outras árvores todas e, apesar de bonita e de fazer muita vista, não podiam continuar a responsabilizar-se por ela. Temiam o pior, ameaçava até não dar flores este ano se não a mudassem para o corredor das nespereiras. ("Porque as nespereiras não são umas tontas, como outras, sempre atrás de uma noiva ainda mais tonta para lhe enfeitar a grinalda").
É uma laranjeira e agora é minha. Chama-se Aurora e é, de facto, muito rebiteza. Não gosta de casamentos e não adorou a vizinhança das couves, mas encantou-se com o vaso de barro da oliveira, com o prato por baixo.
- Que maravilha, um prato por baixo do vaso. Para que serve?
- Para a Violeta, a minha inquilina, que é uma osga.
- O que é uma osga?
Vim-me embora, antes que a oliveira a chamasse.
Monday, April 12, 2010
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
10 comments:
Eurídice,
as vidas que vais oferecendo às tuas árvores são absolutamente deliciosas. Espero que não desistas delas.
Leio-as regularmente. Nunca comentei, e não podia deixar de o fazer.
Guilherme
Eu acho que á Aurora é capaz de te vir a exigir a nespereira de que foi abruptamente afastada... É uma preocupação!!!!
Laranjeira? Hoje? Deve ter vindo ontem de Carcavelos...
Olobobom
De HMJ, embora sob outro nome:
Se a oliveirinha se encontra no lado direito inferior da foto, entendo, perfeitamente, a sua secura em não dar frutos ... !
Parece, pois, que está a precisar de uns sapatinhos novos, com um tamanhinho bem superior !
As oliveiras não são mulheres do Oriente que apertam os pés dentro de sapatos apertadíssimos. Pelo contrário, as árvores gostam do espaço largo e calçado adequado !
vê-se mesmo que é uma oliveira, não havia motivos para dúvidas de género. agora: a osga. tens a certeza de que não é um osgo? só para ficar tudo bem esclarecido, como convém.
Para Anónimo/Annymous: a nespereira, se tudo correr bem (i.e., se o sol for farto e a chuva bem medida), será feliz e grata companhia no quintal da eurídice daqui a uns meses. Num vaso pequenino, o meu vaso pequenino.
Para APS: não é do oriente, não senhor, e não devemos infligir à nossa prole os males a que estulta e diariamente nos sujeitamos (Também não tenho raízes curtas, sei o que sofro). O calçado novo está prometido, para breve, que só se cresce para e por onde se pode. Tudo para a oliveira da eurídice. Com muito mimo.
Para R.: é uma osga, velha e sandia, das beiras. A confusão é lícita, mas infundada. É uma osga, que um osgo não batia assim :)
E finalmente, para GP: obrigada. Um quintal lisonjeado fica logo mais bonito. Quanto às vidas das ditas, palavra que me limito a regá-las e revolver-lhes a terra, quando é preciso. Também desalojo uns quantos caracóis de vez em quando, sem maldade, mas os nossos estão primeiro. Falo com elas, porque a minha mãe sempre me disse que se deve falar com as plantas. O que ela não me disse é que algumas respondiam.
Abraço
Post a Comment