ESTAVA AQUI A FALAR COM A VIOLETA
- Violeta?
- Sim, a osga que mora aqui debaixo do prato da água.
- Chama-se Violeta? Nao sabia que lhes davas nomes.
- Não lhe dei nome nenhum, é o nome dela. Olha que ela lembra-se bem de ti, todos os dias no quintal a mandar bolas à parede. Ainda tentou falar com A Menina Que Tu És E Que Tu Serás, mas sempre que a via, a senhora empunhava a vassoura e perseguia-a quintal fora. Desgraçada da criatura não sabia onde havia de se enfiar para ter um bocadinho de paz e fazer a tese - onde acabou por ter nota máxima com louvor e distinção, não que tenhas contribuído alguma coisa para isso.
- E sobre o que era a tese?
- Adopção de répteis e consequências socio-políticas da sua integração em quintais hostis.
- O meu quintal não é hostil!
- Agora não é. Mais ou menos. Podia ser melhor. A Violeta diz-me que isto não são condições de trabalho apropriadas a nenhuma espécie arbórea e que devia tomar conta dos meios de produção e tomar as instalações de assalto. A bem dos trabalhadores e da justiça social.
- Mas tu não trabalhas, oliveira. Vamos lá a ver onde se meteu essa Dona Violeta, para falarmos sobre umas coisas.
- Está na hora de almoço. Diz no contrato que tem direito a uma hora de almoço. Sabes como é que ela te chama?
- Não sei, mas imagino.
- Ela quer um vaso maior. Aliás, um prato maior.
- Desconfio que não há Dona Violeta nenhuma.
- Palavra que existe, eurídice. A hora de almoço dela deve estar a acabar, podes pergunta-lhe tu. Ali vem ela, a descer o muro.
E corri, como não corria desde os meus 6 anos.
Saturday, March 20, 2010
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2 comments:
uma violeta tão simpática... patronato em fuga, não se faz, não se faz ;)
que posso dizer em minha defesa?
Era uma osga!
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